domingo, agosto 24, 2008

Homem sofre (episódio 1)

Euclides Eufrásio, rapaz provinciano, vai trabalhar para a cidade grande. Nunca tinha saído da sua aldeia beirã, perdida junto à fronteira com Espanha, Termas de Monfortinho de seu nome, mais perto de Vila Real de Santo António por terras de "nuestros hermanos" do que por terras lusas.
Asdrúbal Sebastião, um tio da prima em terceiro grau, da vizinha da cunhada do irmão arranjou-lhe um grande emprego: repositor no Continente do Vasco da Gama.
Emprego de futuro, com uma grande carreira em perspectiva. Ao fim de 5 anos passaria a caixa, ao fim de 10 a chefe de caixa.
Com sorte aos 20 anos de serviço já poderia chefiar o turno das caixas e a seguir poderia viver dos louros duma vida de trabalho. O mesmo parente conseguiu-lhe um quarto numas águas furtadas lá para os lados da ajuda, na casa duma senhora respeitável, artista de profissão (pintora dissera-lhe em surdina o parente Asdrúbal Sebastião), senhora culta, Adosinda Silveira de seu nome.
Logo no primeiro dia ela avisou:
- Moças cá em casa só se for namoro sério, porque isto é uma casa séria.
O pior era o hábito de ela pintar desnuda a partir das 23 horas, com uma garrafa duma bebida cujo nome ele não sabia pronunciar, mas a marca era "Absoluto", e que ao fim de 2 horas de pintura já estava vazia.
A artista deambulava pela casa num torpor alcoólico, tendo por hábito ir para as águas furtadas, esquecendo-se do pobre e inocente inquilino, e, como ela dizia "uivar às estrelas e banhar-se na inspiração que lhe fornecia a luz lunar".
O pobre Eufrásio ficava aterrado com estas noites. Não sabia o que era pior:
os uivos da senhora, se o corpo desnudo e embriagado da sexagenária.


Não perca as cenas dos próximos episódios desta novela romanesca, que faz a estreia neste blog

E como dizem por aí


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