terça-feira, fevereiro 03, 2009

Doente?! Nunca mais.


Ter de recorrer ao sistema nacional de saúde quando se está doente pode ser uma epopeia de proporções homéricas. Aqui há dias, sentido-me acometida de calafrios, dores musculares e mais uns quantos sintomas típicos de uma gripe, resolvi dirigir-me ao Centro de Saúde da minha área de residência. Depois de superar uma fila de idosas tagarelas e bem dispostas, lá cheguei ao balcão de atendimento onde uma funcionária mal encarada fazia a marcação de consultas. Ora julgava eu que, por estar doente, teria direito a um tratamento...vá lá...humano. Desenganei-me logo. Altiva, poderosa no seu posto de trabalho, a dita funcionária anunciou-me, com desapego, que a minha médica de família estava de baixa há vários meses e que se queria consulta tinha de ir para "os sem médico". Bom, não levantei obstáculos, pois para mim tanto me fazia. O que eu queria era uma consulta e pronto! A resposta é que não me agradou: "Ó minha senhora, para ter consulta tem de tirar uma senha lá em baixo no segurança." Lá fui eu ao segurança...em vão. Senhas já não as havia, eram distribuidas às 8 horas da manhã e havia pouquíssimas vagas para doentes sem médico de família...que fosse ao 2º Piso e falasse com a funcionária a ver se arranjava alguma coisa. Escada acima outra vez e nova resposta desagradável: "Não há vagas para hoje." Aflita e com o corpo a pedir cama quente, muito delicadamente lá expliquei que estava a faltar ao serviço para estar ali, para ter a consulta, que me sentia mal, que ia precisar de justificar a minha ausência ao serviço: "Minha senhora, isso já não sei. Se não teve consulta não pudemos passar nenhuma justificação de presença. Venha à noite às urgências e peça ao médico que a atender e pode ser que ele lhe passe uma baixa." Assim fiz, mortificada.

Noite alta, comprimida entre dezenas de doentes, lá fui atendida após duas horas de espera. Confirmada a gripe, expus à médica que me atendeu o que se passara naquela manhã. Olhou-me, desconfiada, e perguntou-me se fazia sentido passar-me uma baixa por um dia. Contrariada lá me passou uma baixa de três dias, porque só um...não fazia sentido. Terminara a minha epopeia, julgava eu, ingenuamente.

Cumprida a dita baixa médica e ainda algo combalida (não sei como a gripe não se converteu em pneumonia), vou à secção de pessoal do meu emprego entregar o dito documento. A funcionária olha para o papel e chama outra colega, começando ambas a debater a lei não sei quantas e o artigo tal do despacho do dia x, enquanto apalpam e reviram o papel da baixa. Chegam a uma conclusão...aquilo não serve, não está conforme a lei não sei das quantas e o artigo do tal despacho do dia x. Tenho que voltar ao Centro de Saúde, dizem, e pedir que me passem um novo atestado respeitando o modelo que tem a ver com a tal lei...etc, etc. Entro em pânico! Revejo-me naquele antro, de novo a ouvir, do lado de lá do balcão de atendimento, no meio de idosas tagarelas à espera de receitas para as artroses, a voz entendida da funcionária a dizer: "Tem de tirar senha...já não há vagas." Estou suplicante, desesperada...não me obriguem a voltar lá. Nada a fazer, o papel não está de acordo com a tal lei, etc, etc. A gripe passou, mas agora receio a depressão profunda e sinto um princípio de fobia a médicos, centros de saúde, hospitais e afins. Vou ter de lá voltar, pois não tenho outro remédio. Resolvo prevenir-me, não vá a coisa dar para o torto - meto um dia, a descontar nas minhas férias, para poder ir resolver o assunto ao Centro de Saúde. A ver vamos.


Moral da história: nunca por nunca se deve adoecer e, se não o pudermos evitar, é ir a um médico particular e pedir-lhe uma baixa, baixa essa que terá de ser levada ao Centro de Saúde para que o médico de família passe uma nova que esteja conforme a lei tal e o despacho X. Não...assim não dá. Resumindo...não adoeça mesmo ou, então, se adoecer, morra.

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