Ainda e sempre o supermercado, a catedral do consumo onde por força da minha condição sou obrigada a entrar.
Estou numa fila para a Caixa e chegou a minha vez de pôr no tapete rolante os pensinhos e o detergente que comprei. Como sempre distraída estou a milhas de distância, numa qualquer praia de areia branca à procura de caranguejos desprevenidos, quando oiço atrás de mim uma troca de palavras indignadas que, aos poucos, começam a formar sentido: É uma vergonha. Não há respeito nenhum. A senhora tem todo o direito de passar à frente! Voltei-me para trás para ver o que se passava e dou com uma senhora, derreada com uma criança ao colo e...meu Deus...uma fila de gente a comentar e a olhar para mim de soslaio. Num impulso, dirigi-me àquela gente e disse: Não tenho olhos nas costas, deviam ter-me avisado. Acrescentei, claro, para a mãe sobrecarregada: Passe, passe. Devia ter-me chamado a atenção. Mais atrás, o marido, avança também e diz-me: Para quê? As pessoas ainda ficam ofendidas se pedirmos.
Ao que isto chegou! Dizem que somos um animal social, mas na prática somos de um individualismo comparado ao dos hamsters. Não há como esperar mudanças, progressos, revoluções, quando o homem se limita ao tímido protesto nas situações mais banais e se resigna ao não cumprimento dos seus direitos.
Sem comentários:
Enviar um comentário