terça-feira, abril 15, 2008

Medicina

Quando se pensa que é só com a informática que se passam coisas estranhas, eis que algo surge que nos faz mudar de ideias. Recebi este texto num, que se me escapa a autoria, mas que achei um exemplo perfeito de como não é só a informática que têm coisas estranhas:

« A Medicina é - diz quem a pratica - a mais bela das profissões. Quem a exerce sabe que cada vez mais deve estar atento à qualidade da comunicação que mantém com o paciente como parte primordial de todo o projecto terapêutico: saber escutar o doente, entender as suas formas de expressão e saber transmitir em termos simples e directos aquilo que pensa e aquilo que pretende que o doente assimile e ponha em prática, sem recorrer ao linguarejar hermético e técnico que caracteriza alguns sectores da classe médica, é para o clínico muito mais de meio caminho andado para o sucesso...

'O doente que tem que contar em minutos os males de um 'maldito corpo que não corresponde aos desejos da alma' está sujeito a lapsus linguae, frutos da atrapalhação, da timidez, do incómodo de ali estar perante o médico. Compreendamo-lo pois com bom humor!'

Carlos Barreira Da Costa, médico Otorrinolaringologista da mui nobre e Invicta cidade do Porto, decidiu compilar no seu livro 'A Medicina na Voz do Povo', com o inestimável contributo de muitos colegas de profissão, trinta anos de histórias, crenças e dizeres ouvidos durante o exercício desta peculiar forma de apostolado que é a prática da medicina. E dele não resisti a extrair verdadeiras jóias deste tão pouco conhecido léxico que decidi compartilhar convosco.

O diálogo com um paciente com patologia da boca, olhos, ouvidos, nariz e garganta é sempre um desafio para o clínico:

§ 'A minha expectoração é limpa, assim branquinha, parece com sua licença espermatozóides'.

§ 'Quando me assoo dou um traque pelo ouvido, e enquanto não puxar pelo corpo, suar, ou o caralho, o nariz não se destapa'.

§ 'Não sei se isto que tenho no ouvido é cera ou caruncho'.

§ 'Isto deu-me de ter metido a cabeça no frigorífico. Um mês depois fui ao Hospital e disseram-me que tinha bolhas de ar no ouvido'.

§ 'Ouço mal, vejo mal, tenho a mente descaída'.

§ 'Fui ao Ftalmologista, meteu-me uns parafusinhos nos olhos a ver se as lágrimas saiam'.

§ 'Tenho a língua cheia de Áfricas'.

§ 'Gostava que as papilas gustativas se manifestassem a meu favor'.

§ 'O dente arrecolhia pus e na altura em que arrecolhia às imidulas infeccionava-as'.

§ 'A garganta traqueia-me, dá-me aqueles estalinhos e depois fica melhor'.

As perturbações da fala impacientam o doente:

§ 'Na voz sinto aquilo tudo embuzinado'.

§ 'Não tenho dores, a voz é que está muito fosforenta'.

§ 'Tenho humidade gordurosa nas cordas vocais'.

§ 'O meu pai morreu de tísica na laringe'.

Os 'problemas da cabeça' são muito frequentes:

§ 'Há dias fiz um exame ao capacete no Hospital de S. João'.

§ 'Andei num Neurologista que disse que parti o penedo, o rochedo ou lá o que é...'.

§ 'Fui a um desses médicos que não consultam a gente, só falam pra nós'.

§ 'Vem-me muitos palpites ruins, assim de baixo para cima...'

§ 'A minha cabecinha começa assim a ferver e fico com ela húmida, assim aos tombos, a trabalhar'.

§ 'Ou caiu da burra ou foi um ataque cardeal'.

Os aparelhos genital e urinário são objecto de queixas sui generis :

§ 'Venho aqui mostrar a parreca'.

§ 'A minha pardalona está a mudar de cor'.

§ 'Às vezes prega-se-me umas comichões nas barbatanas'.

§ 'Tenho esta comichão na perseguida porque o meu marido tem uma infecção na ponta da natureza'.

§ 'Fazem aqui o Papa Micau (Papanicolau)?'

§ 'Quantos filhos teve?' - pergunta o médico. ' Para a retrete foram quatro, senhor doutor, e à pia baptismal levei três'.

§ 'Apareceu-me uma ferida, não sei se de infecção se de uma foda mal dada'.

§ 'Tenho de ser operado ao stick. Já fui operado aos estículos'.

§ 'Quando estou de pau feito... a puta verga'.

§ 'O Médico mandou-me lavar a montadeira logo de manhã'.

As dores da coluna e do aparelho muscular e esquelético são difíceis de suportar:

§ 'Metade das minhas doenças é desfalsificação dos ossos e intendência para a tensão alta'.

§ 'O pouco cálcio que tenho acumula-se na fractura'.

§ 'Já tenho os ossos desclassificados'.

§ 'Alem das itroses tenho classificação ossal'.

§ 'O meu reumatismo é climático'.

§ 'É uma dor insepulcrável'.

§ 'Tenho artroses remodeladas e de densidade forte'.

§ 'Estou desconfiado que tenho uma hérnia de escala'.

O português bebe e fuma muito e desculpa-se com frequência:

§ 'Tomo um vinho que não me assobe à cabeça'.

§ 'Eu abuso um pouco da água do Luso'.

§ 'Não era ébrio nato mas abusava um pouco do álcool'

§ 'Fujo dos antibióticos por causa do estômago. Prefiro remédios caseiros, a aguardente queimada faz-me muito bem'.

§ 'Eu sou um fumador invertebrado'.

O aparelho digestivo origina sempre muitas queixas:

§ 'Fui operado ao panquecas'.

§ 'Tive três úlceras: uma macho, uma fêmea e uma de gastrina'.

§ 'Ando com o fígado elevado. Já o tive a 40, mas agora está mais baixo'.

§ 'Eu era muito encharcado a essa coisa da azia'.

§ 'Senhor Doutor a minha mulher tem umas almorródias que com a sua licença nem dá um peido'.

§ 'Tenho pedra na basílica'.

§ 'O meu marido está internado porque sangra pela via da frente e pinga pela via de trás'.

§ 'Fizeram-me um exame que era uma televisão a trabalhar e eu a comer papa'.

§ 'Fiz uma mamografia ao intestino'.

§ 'O meu filho foi operado ao pence (apêndice) mas não lhe puseram os trenos ( drenos), encheu o pipo e teve que pôr o soma ( sonda)'.

Os medicamentos e os seus efeitos prestam-se às maiores confusões:

§ 'Ando a tomar o Esperma Canulado'- Espasmo Canulase

§ 'Tenho cataratas na vista e ando a tomar o Simião' – Sermion

§ 'Andei a tomar umas injecções de Esferovite' – Parenterovit

§ 'Era um antibiótico perlim pim pim mas não me fez nada' – Piprilim

§ 'Agora estou melhor, tomo o Bate Certo' – Betaserc

§ 'Tomo o Sigerom e o Chico Bem' - Stugeron e Gincoben

§ 'Ando a tomar o Castro Leão' – Castilium

§ 'Tomei Sexovir' – Isovir

§ 'Tomo uma cábulas à noite'.

§ 'Tomei uns comprimidos 'jaunes', assim amarelados'.

§ 'Tomo uns comprimidos a modos de umas aboborinhas'.

§ 'Receitou-me uns comprimidos que me põem um pouco tonha'.

§ 'Estava a ficar com os abéticos no sangue'.

§ 'Diz lá no papel que o medicamento podia dar muitas complicações e alienações'.

§ 'Quando acordo mais descaída tomo comprimidos de alta potência e fico logo melhor'.

§ 'Ó Sra. Enfermeira, ele tem o cu como um véu. O líquido entra e nem actua'.

§ 'Na minha opinião sinto-me com melhores sintomas'.

O que os doentes pensam do médico:

§ 'Também desculpe, aquela médica não tinha modinhos nenhuns'.

§ 'Especialista, médico, mas entendido!'.

§ 'Não sou muito afluente de vir aos médicos'.

§ 'Quando eu estou mal, os senhores são Deus, mas se me vejo de saúde acho-vos uns estapores'.

§ 'Gosto do Senhor Doutor! Diz logo o que tem a dizer, não anda a engasular ninguém'.

§ 'Não há melhor doente que eu! Faço tudo o que me mandam, com aquela coisa de não morrer'.

Em relação ao doente o humor deve sempre prevalecer sobre a sisudez e o distanciamento. Senão atentem neste 'clássico':

'Ó Senhor Doutor, e eu posso tomar estes comprimidos com a menstruação?

Ao que o médico retorque: 'Claro que pode. Mas se os tomar com água é capaz de não ser pior ideia. Pelo menos sabe melhor.' »

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